A ferrugem está na moda.
" Ninguém, a não ser um idiota, escreve a não ser por dinheiro" - Samuel Johnson.
sexta-feira, 2 de janeiro de 2015
Réveillon
Todo dia é ano novo
pra quem não tem medo do futuro
e, no fundo
do bolso
ficam esquecidos os segredos do universo.
Hoje a vida já não está tão ruim
e a carteira até que tem alguns trocados.
A robusta felicidade do maratonista:
Sua ofegante recompensa
ao cruzar a linha de chegada.
Primeiro colocado?
Se é somente isso que lhe importa
você, meu amigo, não aprendeu absolutamente nada sobre a vida.
quarta-feira, 25 de setembro de 2013
Frames per Second
Parte 1
A escuridão que dilata as pupilas
a fome que te consome a alma;
Os dias em que guarda a vida no bolso
e os livros na estante da sala.
As vertigens no saguão principal
o medo da queda e não da altura;
O luto de estar sempre um degrau abaixo
e a dúvida:
no mundo qual é a lei que vigora?
Parte 2
O instante em que se perde o controle
o exato instante em que
segundo a segundo
bit por bit
batida por batida
o mundo a sua volta muda.
Ficar para trás
e observar tudo que está sendo feito
quem vai na frente sofre com o desespero
no seu lugar eu ficaria aqui
não pensaria duas vezes em ir.
O café do jeito que você gosta
na manhã fria em que te perdi.
Parece piada de um stand-up ruim
desses que passam na TV nos dias de semana à noite.
terça-feira, 14 de maio de 2013
Iguatu
Voltar
os ponteiros do relógio
não faz o tempo
desacelerar.
bater o ponto sempre na hora correta
te faz um cidadão de bem
funcionário
do mês.
sonhar
acordado ou dormir em pé
não faz os seus desejos
se materializarem.
a sua capacidade de cumprir regras
te faz ser desejado
por todos
no mercado
de trabalho (escravo?)
a ferrugem te consome
em Iguatu.
Em todo tanto falta tato.
Peixeira afiada no asfalto
em Iguatu
meus sonhos se tornarão realidade
se um dia lá eu chegar.
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Poemas
segunda-feira, 17 de dezembro de 2012
Sparkles & Shine
![]() |
crédito da imagem: http://pascalcampion.tumblr.com/ |
Vou rasgar meu peito em Abril.
Abrir um buraco
do tamanho de meu punho
e deixar tudo sair
em um único jorro
Vou parar de beber em Abril
e mesmo no frio
resistirei ao conhaque
ao vinho
ao uísque
Vou começar a viver melhor no Abril
dos ventos que trazem esperança
e acalmam até o mais tempestuoso
do homens.
Vou escrever um livro em Abril
plantar uma árvore
Vou ter um filho em Abril
E ele irá chamar João
e terá o sorriso da mãe
e talvez algumas loucuras do pai
Vou chorar mais em Abril
e deixar de lado todo o rancor
de quem leva a vida a passos curtos
Vou me lembrar de você em Abril
para depois me esquecer completamente
no instante que eu piscar os olhos
Vou ir visitar meus pais em Abril
ligar para o meu irmão mais velho
e dizer que estou feliz
e que tenho orgulho dele
de nós
Vou deletar tudo em Abril
ir viajar e me desligar do mundo
ser menos covarde
em Abril
Vou escrever pra todo mundo ler
em Abril
vou abrir um blog
e esse será meu primeiro poema
o poema da redenção
de uma nova vida
pra vida começar a ter um pouco mais de brilho
em Abril
quarta-feira, 17 de outubro de 2012
Praça
Se no mundo não houvesse nenhum livro
e escrever fosse proibido
eu inventaria palavras
no decalque das nuvens
digitaria em teclados imaginários
termos desconhecidos
da minha língua materna
passaria horas a fazer desenhos em pedras
rabiscos com carvão
inventando
um alfabeto
e sendo subversivo
se ler fosse apenas privilégio de poucos
eu, que faria parte dos muitos, morreria para ter uma linha
escrita em papel velho
em minhas mãos
se o decreto real, presidencial
ou até de um chefe tribal
fosse "está proibido ler e escrever"
eu faria motim
jihad
protesto
arquitetaria um grande golpe ou revolução
chame como quiser
mas eu não viveria parado
em um mundo sem palavras
nunca será tarde
pra quem imagina
se no meu mundo
não houvesse livros
eu seria um cara bem mais triste do que já sou
e se me proibissem de escrever
eu morreria
de desgosto
se no meu mundo não houvesse palavras
eu compraria um revólver
e em praça pública
estouraria os miolos
no outro dia
nenhuma manchete
nenhum alarde
sem palavras
seríamos frias máquinas
matemáticas
sexta-feira, 31 de agosto de 2012
Houdini
É pedir muito
que a moeda de troca
no mundo
fosse algo que não se vê?
Acreditar sem saber
nas escolas de filosofia.
Que o papel fosse branco
e o seu valor fosse aberto a sua imaginação.
Acreditar nas pessoas a esse ponto
é pedir
demais pra você
que olha pra trás e nunca sorri
Como saber se por aí ainda há
aquilo que esperamos de todos
e não sabemos nomear.
Um dia inteiro a se esperar
no escaldante sol
de verão
dos nossos sonhos.
é um vício
que está na fila do banco
ou na conta
do bar
Rir da mais-valia
com uma ironia tão grande
de envergonhar quem com ela anda.
Um jogo de cartas marcadas
blackjack do subúrbio
Um truque
onde o Houdini escapa das correntes
e nos faz acreditar
que tudo
se resolve em um passe de mágica.
quarta-feira, 22 de agosto de 2012
Vendeta
Começar.
Começamos sempre no fim
de tarde ou de semana
a pensar
na vida
que começou
milhares de anos atrás
já existia o amor?
Os modernos aparelhos
facilitaram a tocaia
em busca da vendeta.
Ele fica horas
no mato
escutando Chopin;
Ele vai fazer tudo que prometera no divã.
As armas modernas também ajudam.
O laser
lhe deixa mais confiante
desejou anos
treinou meses
esperou horas
e agora
é o instante
os segundos são importantes
para encurtar o caminho até a morte
e sustentar o brilho do semblante
não tem culpa a arma disparada
de cobrar o sangue
nem tem culpa o chão que acolhe
o morto
sem fazer uma indagação.
Pra se benzer e pedir proteção
o cobrador leva três segundos e meio
pra se arrepender
vai precisar da vida toda.
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